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segunda-feira, 14 de maio de 2018

#DEIXAELATRABALHAR

Repórteres que também apoiam o projeto. Foto: reprodução youtube.


 A hashtag #DeixaElaTrabalhar, criada nas redes sociais, é um movimento contra o assédio a repórteres mulheres nos estádios do Brasil. Esse movimento vem tomando conta dos principais jornais, revistas, e programas de debates do país, jornalistas que estão apenas fazendo o seu trabalho acabam sendo desrespeitadas, então todas elas se juntaram contra todo machismo, a diferenciação, o desrespeito, a violência e toda essa humilhação, iniciando essa campanha.

  Muitos casos repercutiram bastante, como o da repórter Bruna Dealtry do canal Esporte Interativo que foi beijada a força por um torcedor em uma transmissão ao vivo, também o da repórter Renata Medeiros da Rádio Gaúcha em Porto Alegre, que já passou por diversas situações, a mais recente delas vista nas redes sociais quando um torcedor do Inter a insultou e agrediu fisicamente no estádio Beira Rio enquanto cobria o Grenal. ‘’Sai daqui, sua puta’’ gritava o torcedor.
  Esse é só um dos muitos casos que ocorrem com jornalistas esportivas, o que não se limita só a essa área, o objetivo da campanha é dar incentivo a mulheres de todas as áreas que sofrem a buscar o seu espaço.

Renata Medeiros conversa com nossa repórter e responde algumas perguntas contando como se sentiu.



Gabrielen- Há quanto tempo tu trabalha com o jornalismo esportivo?
Renata- Eu trabalho no jornalismo esportivo desde o segundo semestre da faculdade quando eu comecei a trabalhar como estagiária de produção da Rádio Guaíba, eu comecei a trabalhar lá em outubro de 2011 produzindo o programa Repórter Esportivo á tarde, fiquei lá por um ano, quando fui chamada pra estagiar na rádio Gaúcha em novembro de 2012, dali fui pra Zero Hora fazer Copa do Mundo em fevereiro de 2013, e quando me formei no fim de 2014, fui contratada como jornalista pela rádio Gaúcha em 2015 onde estou até hoje.
Gabrielen- O que te fez escolher essa profissão?
 repórter Renata Medeiros no vídeo da campanha: reprodução youtube
Renata- Eu sempre gostei muito de futebol e por isso eu começava a ler a Zero Hora de trás pra frente como a maioria de nós que gosta de esporte, então eu comecei na sexta série a escrever sobre futebol nas aulas de crônicas que eu tinha na disciplina de redação. Escrever sobre futebol me despertou um gosto muito intenso pela profissão, e logo na sexta série eu já tinha certeza que eu queria ser jornalista esportiva pra escrever sobre futebol, então a primeira oportunidade que eu tive de entrar num mundo esportivo dentro do jornalismo eu me agarrei mesmo sendo rádio, embora eu sempre quisesse impresso, minha primeira oportunidade foi em rádio e eu me agarrei nela.
Gabrielen- Já passou por situações desagradáveis pelo machismo? Quais vezes?
Renata- Acho que são duas coisas, primeiro o sentimento geral que a gente tem de todos os dias precisar provar que a gente tem condições de estar onde a gente está, isso é um sentimento constante e que eu acho que ainda vai demorar algumas gerações pra gente se livrar, se libertar desse sentimento de que a gente ta sempre em desvantagem, sempre duvidada, a gente nunca tem mérito de nada, os próprios colegas desmerecem nosso trabalho justamente pela questão do gênero. Quais vezes? Retirando isso de diariamente, coisas que eu me lembre assim, teve um dia no ar que o comentarista falou que eu não era tão bonita quanto ele achou que eu era, no meio de um boletim que eu estava dando sobre o Cruzeiro na Copa do Brasil, e eu respondi a ele que eu não era paga pra ser bonita, eu era paga pra dar informação. Sempre que eu me deparei com situações machistas eu procurei responder de igual pra igual pra que eu não assimilasse o ataque, mas claro que a situação mais grave que aconteceu comigo foi no Grenal, aquele torcedor do Inter que me agrediu, sem dúvida eu nunca pensei que fosse passar por algo nem perto disso.
Gabrielen- Já pensou em mudar de profissão por causa dessas dificuldades?
Renata- Nunca, nunca porque eu passei seis anos só querendo muito trabalhar com jornalismo esportivo, e eu de carreira tenho sete anos de jornalismo esportivo agora, então eu basicamente passei o mesmo tempo querendo ser jornalista e sendo jornalista então é algo tão meu, já é tão parte de mim que eu não me imagino sem, não me imagino em outra profissão, não me imagino fazendo outra coisa e eu acho que ninguém tem o direito de tirar isso de mim, todo mundo que sonha em ser jornalista esportiva ou qualquer outra profissão, não é por causa do gênero que vai ser mais merecedor do que o outro, então eu imagino que ninguém pode tirar isso de mim e por isso eu nunca pensei em mudar de profissão, mesmo depois do Grenal que foi a ocasião que mais mexeu comigo, que eu chorei bastante, fiquei bem abalada, por um
momento meu pai, por exemplo, falou ‘’viu o que é que da ficar metida no estádio’’, como se eu fosse culpada por ter sofrido aquilo, esses momentos mesmo tendo sofrido isso, mesmo tendo sido colocada em dúvida minha paixão, minha capacidade pelo jornalismo esportivo, não só na questão técnica, mas de suportar o pacote como um todo, e quando eu falo em pacote eu cito essas ocasiões, então ter vivido isso foi bem complicado e mesmo assim eu nunca pensei em desistir.
Gabrielen- Que mensagem tu deixa para as mulheres que querem seguir essa profissão?
Renata- O recado que eu deixo é não se acostumar com o cenário do futebol que é nos apresentado desde pequenas, a gente basicamente é levada no estádio desde criança vestindo roupas mais largas do que o manequim que a gente veste, acompanhada normalmente por homens, nosso pai, nosso namorado, e eu tive a sorte de sempre ser acompanhada pela minha mãe e ter assim numa mulher um grande espelho dentro de casa, eu sei que com a grande maioria não é assim que funciona, então a gente cresce ouvindo’’ ah se tu quer ta nesse meio tu tem que se acostumar com isso’’. Eu acho que a nossa geração, a minha e as mais jovens não tem mais que se acostumar com isso, não tem que se acostumar a ouvir piadinha, se sentir diminuída, a ser alvo de brincadeiras de mau gosto, de comentários sexistas, enfim, todo comportamento machista que ta naquele pacote que eu falei do futebol, eu acho que tem que terminar e isso só vai mudar se a gente começar a mudar essa cultura de que dentro do estádio tudo pode, esse é o recado que eu dou pras mulheres que querem seguir no jornalismo esportivo, não deixem que as pessoas tentem acostumar vocês a suportar coisas que a gente não tem que suportar, respondam, revidem e deixem muito claro que o jornalismo tem que abrir espaço, principalmente o esportivo, tem que abrir espaço pra presença da mulher como profissionais sérias de posição, de informação, de opinião, e não como a voz feminina, a musa da reportagem, adjetivos que não agregam em nada para o nosso trabalho, nosso trabalho é sério, é de credibilidade, é de qualidade, é como de qualquer outra pessoa, não é porque a gente é mulher que a gente tem que ser tratada como uma atração dentro do jornalismo esportivo. Esse é o recado que eu deixo para quem quiser seguir nessa área.



Vídeo da campanha / reprodução youtube




Matéria feita por Gabrielen de Oliveira Marques e postada pelo blog quando é o café.




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