Devido à crise
econômica na Venezuela, Jesús Borregales (32) e Rossysela Hernandez (30),
deixaram a cidade de Maracaibo, onde nasceram, para tentar a sorte no Brasil. Em
busca de emprego e moradia, eles enfrentaram situações ruins, fizeram amizades,
sorriram e choraram. Confira mais sobre a imigração Venezuelana, na entrevista:
Como foi a vinda para o Brasil? O que fizeram quando
chegaram aqui?
Jesús: Nós vendemos tudo o que tínhamos na Venezuela: casa,
carro, móveis, para comprar dólares. Então, pegamos o avião para Manaus e
ficamos dois dias dormindo no aeroporto de Manaus.
Rossysela: Depois nós fomos para um hotel. Foi um sonho! Ver
a mesa do café da manhã cheia! Podia comer tudo. (Risos)
Quais os motivos de escolherem morar no Brasil? E no Rio
Grande do Sul?
Rossysela: Minha irmã mora em Porto Alegre, há 4 anos, ela
se mudou, por causa do marido que veio trabalhar na UFRGS como químico. Então,
achamos que a melhor opção era aqui.
Como foi a decisão de mudarem de país?
Jesús: Nós passamos muita dificuldade na Venezuela, faltava
tudo. Tivemos que sair de lá, para não sofrer mais! Tínhamos duas refeições
diárias. E agora a situação está pior na Venezuela.
Rossysela: Fugimos por prevenção também. Um dia fui comprar
medicamentos e não tinha na farmácia, então colocaram um número com caneta no
meu braço, como uma senha. Aquele dia marcou minha história, me senti como um
animal sendo marcado!
Como foi a recepção dos brasileiros?
Rossysela: Ótima, fomos muito bem acolhidos!
Então vão torcer pelo Brasil na Copa do Mundo? (Risos)
Jesús: Sim! Claro! O Brasil vai ganhar da Alemanha na final.
(Risos).
Rossysela: Sim. Eu sempre gostei do Brasil. Em todas as Copas
compro o uniforme da Seleção Brasileira para o meu filho. Desde que ele nasceu!
(Risos)
Como foi que a crise começou? Foi no governo Hugo Cháves?
Jesús: O Hugo Chavez começou a
crise aos poucos, apesar de 90% da população gostar dele. O Nicolas Maduro
acentuou a crise.
Jesús, trabalhou como padeiro na Venezuela, por isso conseguiu um emprego em Porto Alegre. Foto: Brenda Jacques. |
Jesús: Eu trabalhei em loja, padaria, táxi. Enquanto trabalhava,
fazia faculdade de Engenharia elétrica.
Rossysela: Eu estudava Direito, mas tranquei a faculdade.
Porque estudar leis em um país que não respeita as leis? Então fiz o curso de
assistente de dentista e trabalhava no consultório da minha irmã.
Quando foi que começou a faltar serviços básicos?
Jesús: Foi aos poucos no governo Hugo Chávez.
Rossysela: Quando começou a faltar itens básicos, o Hugo
Chavez propôs uma troca de alimentos. Por exemplo, você tem azeite e eu tenho
arroz. Você não precisa do azeite e eu não preciso do arroz, então nós
trocamos. Isso foi um absurdo, porque possibilitou corrupção por parte das
pessoas, que se aproveitavam da necessidade do outro.
E como vocês conseguiram viver nessa situação?
Rossysela: Nós fazíamos estoque de tudo! Naquela época, nós
queríamos ter outro filho, então fizemos estoque de fraldas. Tínhamos sacos de
fralda por toda a casa.
Jesús: Ou tinha que
comprar comida por clandestinos. O que acontecia muito na Venezuela.
Rossysela: Funcionava assim: Você compra um bolo por 5
(reais) e vende a 30 (reais), mas essa pessoa que comprou a 30 pode vender por
60 (reais). Era muita corrupção!
Vocês participaram de
protestos? Qual a posição do governo em relação a esses protestos?
Rossysela: Sempre participamos. E sempre houve violência por
parte do governo. Era tanques de guerra, armas, bombas de dispersão. Houve
mortes inclusive.
Quando foi que o
governo Maduro começou a causar desconforto?
Rossysela: Na verdade, acho que começou no governo Hugo
Chavez, quando funcionários de uma petrolífera estatal começaram uma greve
geral, em 2002. Nesse momento que tudo piorou.
Jesús: O governo Nicolas Maduro causou desconforto desde o
primeiro dia.
Como foi a busca por
emprego e moradia em Porto Alegre?
Jesús: Nós chegamos aqui e fomos direto na Polícia Federal
para conseguir o visto de refugiados. Depois moramos três meses na casa da irmã
da Rossysela.
Rossysela: Ficamos desempregados por dois meses e depois
conseguimos emprego no Mc Donald’s do Shopping Praia de Belas. Enquanto isso,
eu fazia bombons para o Jesús vender no Parque Farroupilha.
Jesús: Procurávamos emprego com nosso filho no colo. Um dia era
12h, estava calor, então fomos ao supermercado comprar pão e presunto, comemos
na praça, me senti muito mal, pois estava em outro país e sem emprego.
Qual a perspectiva de
futuro de vocês?
Jesús: Moramos de aluguel, então pretendo comprar um apartamento
próprio. Viajar, conhecer o Brasil. E dar um bom futuro para meu filho.
Rossysela: Eu quero conhecer o Cristo Redentor (Risos).
Sempre sonhei em conhecer o Rio.
Vocês pretendem
voltar para a Venezuela?
Jesús: Não, quero voltar apenas para visitar alguns parentes
que ainda estão lá.
Rossysela: Quero voltar apenas para conhecer o Salto Ángel,
uma cachoeira linda! Está no Guines Book, inclusive! (Risos)
Como vocês acham que
vai ser o futuro da Venezuela?
Rossysela: A Venezuela se tornou uma nova Cuba, as pessoas
fogem todos os dias. Acho que vai demorar 50 anos, no mínimo, para o país se
recuperar.
Jesús: A situação vai continuar assim por muitos anos, não
tenho uma previsão para a melhora.
E o futuro do Brasil?
Jesús: O Brasil vai melhorar. A Operação Lava Jato está
mostrando isso. Como aconteceu na Itália, uma operação contra a corrupção. Na
Venezuela essas operações não aconteciam.
Jesús se refere à Operação “Mani Pulite”, que em português
significa “Mãos Limpas”.
Se vocês pudessem
deixar uma mensagem para um jovem venezuelano, o que diriam?
Jesús: Saia do país,
é a melhor opção.
Rossysela: Não fique, não proteste! As eleições
são fraudadas na Venezuela. A melhor opção é mudar de país!Brenda Jacques.
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